Quando já se esgotaram os tratamentos conservadores e a única solução é a cirurgia, descubra os conceitos mais atuais da artroplastia moderna do joelho.
Porquê pensar na substituição total de toda a articulação do joelho, quando só parte dele precisa de cirurgia? Porque é que toda parte saudável da sua articulação deve ser conservada, optando por uma cirurgia menos invasiva e com muitos melhores resultados funcionais?
A artrose do joelho afeta milhares de portugueses, podendo localizar-se a nível do compartimento interno (o mais frequente), externo ou ainda no anterior. A artrose do joelho classifica-se em estadio I, II, III e IV, de acordo com as alterações identificadas no exame imagiológico (Raio X).
O tratamento é decidido com base nas queixas do doente, nomeadamente na dor, limitação e ainda nas alterações radiológicas, de forma a permitir um alívio rápido e uma melhoria da função do joelho na execução das atividades de vida diárias, nomeadamente na marcha e, nas idades mais jovens, no desempenho das suas funções laborais.
O tratamento médico, conservador, permite a tolerância do problema até determinado limite, dado que a resolução do problema apenas se obtém substituindo a área lesada da sua articulação.
Prótese Unicompartimental do Joelho
As próteses unicompartimentais apresentam uma solução menos invasiva, permitindo substituir apenas um compartimento através de uma pequena prótese, designada de artroplastia unicompartimental, que permite uma preservação do “stock ósseo” com uma melhoria muito rápida da função e o alívio da dor quase imediata. Possibilita ainda uma recuperação da marcha sem apoio de canadianas duas a quatro semanas após a aplicação da prótese, promovendo uma maior independência e uma rápida recuperação.
A prótese unicompartimental apresenta assim grandes vantagens, tais como: uma incisão menor; a preservação de todos ligamentos naturais (na prótese total são totalmente removidos o cruzado anterior e o cruzado posterior, fundamentais para a estabilidade, equilíbrio e manutenção do movimento natural do joelho após a cirurgia, com melhor função do joelho); permite ainda a preservação de stock ósseo; e tem um menor número de complicações e riscos descrito. A grande vantagem é a implantação de uma nova articulação artificial que se comporta e funciona como se de um joelho natural e saudável se tratasse (2-3).
Em suma, a prótese unicompartimental do joelho permite uma recuperação muito mais rápida, com menos dor (6) e com recuperação precoce do movimento e da amplitude natural do joelho (1,7,8) um internamento mais curto e uma alta taxa de regresso às atividades da vida diárias e às atividades desportivas (9), constituindo uma opção cirúrgica muito menos invasiva (8), com complicações de menor gravidade e em menor número (7), em comparação com uma prótese total.
Os doentes submetidos a uma prótese unicompartimental, revelam estar 2,7 vezes mais satisfeitos com a capacidade que têm em realizar as suas atividades de vida diária, como usar as escadas ou sair do carro4, sendo que há uma percentagem mais elevada de doentes com prótese unicompartimental do joelho que relatam estar “muito feliz” com o resultado obtido após ter realizado esta cirurgia.
A grande maioria das próteses unicompartimentais que realizamos são não cimentadas (sem cimento), o que permite diminuir o tempo (1) (em 9 min) e as complicações intra-operatórias. Aquando da implantação de prótese cimentada, o cimento retido pode aumentar o desgaste do rolamento do material da própria prótese. Assim, nestas não há erro de cimentação, nem detritos de cimento soltos ou que se possam soltar.
A prótese unicompartimental que implantamos no Hospital de Santa Maria – Porto, é a mais utilizada e clinicamente mais comprovada em todo o mundo. Os resultados clínicos publicados a longo prazo, demonstraram uma durabilidade de 94,0% aos 15 anos (11,13,14) e 91% aos 20 anos (11).
Contudo, nem todos os pacientes são candidatos à substituição parcial do joelho, pelo que é fundamental agendar consulta com ortopedista diferenciado no joelho e apresentar os seus sintomas, para ser informado e esclarecido quanto às opções de tratamento.
O seu bem-estar é a nossa prioridade, juntos decidiremos a melhor opção de tratamento, que se adapte às suas necessidades e com o qual possa obter a máxima qualidade de vida possível.
Referências Bibliográficas
1. Lombardi, A. et al. Is Recovery Faster for Mobile-bearing Unicompartmental than Total Knee Arthroplasty? Clinical Orthopedics and Related Research. 467:1450-57.2009
2. Price, AJ, et al. Simultaneous in vitro measurement of patellofemoral kinematics and forces following Oxford medial unicompartmental knee replacement. JBJS (Br). 2006; 88-B; 12:1591-1595.
3. Data on File. Cobb, J, et al. Functional Assessment of knee arthroplasty using an instrumented treadmill. Imperial College of London. March 8, 2012. Presentation.
4. Study by researchers at Washington University in St. Louis, Missouri, US. Portions of study funded by Biomet. Determined based on adjusted odds ratio calculation.
5. Study funded by Biomet. Survey included 236 Oxford Partial Knees patients, 206 Biomet TKA patients and 72 non-Biomet TKA patients
6. Goodfellow, J.W. and O’Connor, J.J. The Mechanics of the Knee and Prosthesis Design. JBJS Br. 60-B(3): 358–69, 1978.
7. Amin A, et al. Unicompartmental or Total Knee Replacement? A Direct Comparative Study of Survivorship and Clinical Outcome at Five Years. JBJS Br. 2006; 88-B; Suppl 1, 100. Published Online.
8. Deshmukh, RV, Scott, RD. Unicompartmental knee arthroplasty: long term results. Clinical Orthopedics and Related Research. 2001; 392:272278.
9. Hopper et al, Surg. Sports Traumatol Arthrosc 2008
10. Lygre, SHL et al. Pain and Function in Patients After Primary Unicompartmental and Total Knee Arthroplasty. JBJS Am. 2010; 92:2890-2897
11. Amin A, et al. Unicompartmental or Total Knee Replacement? A Direct Comparative Study of Survivorship and Clinical Outcome at Five Years. JBJS Br. 2006; 88-B; Suppl 1, 100. Published Online.
12. Deshmukh, RV, Scott, RD. Unicompartmental knee arthroplasty: long term results. Clinical Orthopedics and Related Research. 2001; 392:272278.
13. Robertsson, O, et al. Use of unicompartmental instead of tricompartmental prostheses for unicompartmental arthrosis in the knee is a cost effective alternative. Acta Orthop Scand. (1999); 70(2): 170-175.
14. Psychoyios, V et al. Wear of Congruent Meniscal Bearings in Unicompartmental Knee Arthroplasty. JBJS Br. (1998) 80-B: 876-82.
Este artigo foi desenvolvido pelo Dr. Alexandre Brandão.