Todos nós já passamos por momentos em que «avaliamos» a saúde de outra pessoa, num breve encontro social. A nossa satisfação em relação ao bem-estar da outra pessoa nem sempre inclui uma análise à saúde mental, uma vez que esta tende a ser descurada e esquecida. Embora muitos dos sintomas se reflitam no aspeto físico, estes nem sempre são decifráveis, talvez porque a outra pessoa encontrou mecanismos para se proteger, ou desenvolveu estratégias para se adequar à sua condição mental. Dito isto, é importante compreender-se que a saúde mental está intimamente ligada ao bem-estar geral dos indivíduos.
Os problemas de saúde mental têm-se tornado um alvo de extrema importância, uma vez que a saúde mental é responsável por 5 das 10 patologias que causa maior incapacidade para a atividade profissional e mais mortes prematuras em todo o mundo. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), uma em cada quatro pessoas sofre de perturbação mental e comportamental, em algum momento, durante a sua vida, o que corresponde a 25% da população. Cerca de 450 milhões de pessoas, em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, apresentam perturbações mentais. Deste grupo, as que têm maior incidência são a depressão, o abuso de substâncias, a esquizofrenia e as demências.
Portugal, atualmente, é um dos países onde a prevalência de doenças mentais é muito elevada, quando comparado com outros países da União Europeia. De acordo com o relatório do European Brain Council, 16% dos portugueses, entre os 18 e os 65 anos, tem um problema mental. O mesmo estudo concluiu que cerca de 5% dos portugueses, em idade adulta, sofre de distúrbios afetivos, 9,46% de perturbações de ansiedade e 0,52% de distúrbios psicóticos (Xavier et al., 2013). Dados do INE (Instituto Nacional de Estatística), de 2014, revelaram que, independentemente do grupo etário, a perturbação mais observada é a esquizofrenia, sendo seguida das perturbações depressivas (para o grupo etário entre os 15 e os 64 anos) e das síndromes demenciais (para o grupo etário acima dos 65 anos). Com grande prevalência destacam-se, também, as alterações associadas ao consumo de álcool e drogas, com maior incidência sobretudo nos grupos etários entre os 15 e 34 anos (no caso das drogas) e entre os 35 e 64 anos (no caso do álcool).
Vários profissionais de saúde mental recomendam que indivíduos com sintomatologia depressiva e ansiosa preencham a sua rotina com atividades saudáveis e prazerosas. Esta estratégia tem como objetivo proporcionar uma sensação de preenchimento do dia-a-dia, promovendo no indivíduo maior capacidade de controlo e poder sobre a sua rotina. Tornando-se cada vez mais benéfica, esta estratégia é também bastante eficaz na capacitação do indivíduo para procurar atividades positivas que possam aumentar o sentimento de bem-estar e satisfação consigo mesmo.
O preenchimento da rotina também é muito importante para a população jovem. A introdução de uma rotina saudável irá evitar a presença de pensamentos ruminativos e prevenir que esta população adote um padrão de consumo abusivo de substâncias como mecanismo compensatório. Neste sentido, a prática de exercício físico tem-se revelado bastante eficaz, pois além de libertar substâncias químicas no cérebro (nomeadamente dopamina e endorfina) que promovem uma sensação de bem-estar, aumentam a autoestima, podendo tornar-se num objetivo de gratificação pessoal.
Muitas vezes, chega ao conhecimento dos profissionais de saúde mental, casos de indivíduos que estão medicados de forma incorreta, ou a quem nunca fora prescrita uma medicação eficaz, havendo ainda casos onde os indivíduos estão medicados com doses muito acima/abaixo das suas necessidades. A OMS alerta constantemente para o facto de os ansiolíticos – grupo dos medicamentos mais prescritos – serem um risco para a saúde pública, pelo facto de conterem benzodiazepinas que geram maior tolerância e dependência. Em casos de incorreta dosagem ou prescrição, o indivíduo pode gerar dependência a estes medicamentos e exagerar a sua toma. Esta situação é perigosa, uma vez que existem indicações científicas que fazem corresponder a toma destes medicamentos a défices cognitivos e até ao desenvolvimento de demência.
Estes dados vêm realçar a importância de se promover uma articulação regular e efetiva entre os serviços de Saúde Mental e os Cuidados de Saúde Primários, algo que irá potenciar as capacidades diagnósticas e terapêuticas dos profissionais de Medicina Geral e Familiar.